FATOR “C” - RUGOSIDADE
Rugosidade é definida no caso particular das
tubulações, aquela que tem uma anomalia interna, representada por
protuberâncias, rugas ou ainda crateras em sua estrutura interna
natural quando nova ou após envelhecimento pelo uso.
A rugosidade é medida por um instrumento denominado
rugosímetro. Esse instrumento
com seu braço mecânico contendo na ponta uma agulha
diamantada, deslisa sobre uma
determinada superfície, transmitindo suas deformidades
planas para um leitor analisador
eletrônico, previamente calibrado em termos de
asperezas ou rugosidade milimétricas.
Esse processo é bem parecido com a leitura de um disco
de vinil, onde a agulha do pick up discrimina a música gravada no
disco tipo long play ou não.
A unidade de medida do rugosímetro, no sistema
universal é o metro. Todavia, seu valor pode variar de algumas
frações do micro ate vários milímetros de espessura.
A rugosidade é a responsável pelo atrito ou a
resistência a passagem do fluido, deformando o que seria ideal, o
perfil retangular, para uma curvatura parabólica
comumente denominado, perfil de velocidade. A
consequência da resistência a passagem
ou ao escoamento fluídico internamente sobre as paredes
do tubo é a perda de pressão ou energia distribuída ao longo do
mesmo. No limite da parede, a velocidade fluídica é zero,
aumentando progressivamente ate ao centro, onde a
velocidade é máxima, diminuindo também progressivamente ate chegar
ao valor zero no outro extremo do tubo, dando origem ao que chamamos
de perfil ou curva parabólica.
Em um escoamento normal, o atrito entre as partículas
do fluido e, dessas com as paredes do tubo é determinado pela
fórmula universal de Darcy. Em sua apresentação mais atualizada,
ela vem representada por:
Hf = f . LV²/2gD
(formula de Darcy)
ou
f = Hf . D.2g/L . V²
onde:
Hf = perda de carga (m)
f = coeficiente de atrito (valor absoluto)
L = comprimento da tubulação (m)
V = velocidade média do fluido (m)
D = diâmetro da tubulação (m)
g = aceleração da gravidade local (m/s²)
COEFICIENTE DE ATRITO “f” PARA FERRO
FUNDIDO OU AÇO
Diâmetro
nominal mm
|
Velocidade Média m/s
|
|||||||
0,20
|
0,40
|
0,60
|
0,80
|
1,00
|
1,50
|
2,00
|
3,00
|
|
25
|
0,039
|
0,034
|
0,032
|
0,030
|
0,029
|
0,027
|
0,026
|
0,025
|
38
|
0,037
|
0,033
|
0,031
|
0,029
|
0,029
|
0,027
|
0,026
|
0,025
|
50
|
0,035
|
0,032
|
0,030
|
0,028
|
0,027
|
0,026
|
0,026
|
0,024
|
75
|
0,034
|
0,031
|
0,029
|
0,027
|
0,026
|
0,025
|
0,025
|
0,024
|
100
|
0,033
|
0,030
|
0,028
|
0,026
|
0,026
|
0,025
|
0,025
|
0,023
|
150
|
0,031
|
0,028
|
0,026
|
0,025
|
0,025
|
0,024
|
0,024
|
0,022
|
200
|
0,030
|
0,027
|
0,025
|
0,024
|
0,024
|
0,023
|
0,023
|
0,021
|
250
|
0,028
|
0,026
|
0,024
|
0,023
|
0,023
|
0,022
|
0,022
|
0,020
|
300
|
0,027
|
0,025
|
0,023
|
0,022
|
0,022
|
0,021
|
0,021
|
0,019
|
350
|
0,026
|
0,024
|
0,022
|
0,022
|
0,022
|
0,021
|
0,021
|
0,018
|
400
|
0,024
|
0,023
|
0,022
|
0,021
|
0,021
|
0,020
|
0,020
|
0,018
|
450
|
0,024
|
0,022
|
0,021
|
0,020
|
0,020
|
0,020
|
0,020
|
0,017
|
500
|
0,023
|
0,022
|
0,020
|
0,020
|
0,019
|
0,019
|
0,019
|
0,017
|
550
|
0,023
|
0,021
|
0,019
|
0,019
|
0,018
|
0,018
|
0,018
|
0,016
|
600
|
0,022
|
0,020
|
0,019
|
0,018
|
0,018
|
0,017
|
0,017
|
0,015
|
TABELA I - Valores do
coeficiente de atrito para tubos novos de ferro fundido ou aço
conduzindo água fria (tabela
extraída do livro Azevedo Netto 8ª edição).
Obs. 1 – No caso
particular do diâmetro do tubo aumentar, tendendo para um valor
muito
grande, o coeficiente de atrito “f” tenderá para
valores próximos de zero.
Em experimentos práticos de Laboratório, realizado
pela Lamon Produtos-BH, levantou-se o valor de “f” para um tubo
novo, de PVC marrom de 105 mm de diâmetro interno onde se determinou
medindo e, calculando, os valores de “f”, constante da tabela II.
Coeficiente “f” para tubo de PVC –
valores medidos e calculados
Diâmetro mm
|
Velocidade m/s
|
Hf medido mm H20
|
Vazão Q (l/s)
|
Reynolds
Re = VD/υ
|
“f” calculado
|
Fator “C”
calculado
|
105 mm
|
0,29
|
2,0
|
2,50
|
30.450
|
0,023874
|
148,7
|
“
|
0,52
|
6,0
|
4,50
|
54.600
|
0,022250
|
147,8
|
“
|
0,74
|
12,0
|
6,44
|
77.700
|
0,021974
|
145,6
|
“
|
0,99
|
20,0
|
8,60
|
103.950
|
0,020462
|
147,5
|
“
|
1,47
|
41,0
|
12,00
|
154.350
|
0,019025
|
148,5
|
“
|
2,01
|
73,0
|
17,40
|
211.050
|
0,018119
|
148,3
|
“
|
2,51
|
108,0
|
21,70
|
263.550
|
0,017190
|
149,7
|
“
|
3,03
|
153,0
|
26,20
|
318.150
|
0,016710
|
149,2
|
“
|
3,37
|
186,0
|
29,20
|
353.850
|
0,016422
|
150,2
|
Tabela II –
Valores medidos com padrão magnético de vazão e maleta eletrônica
de diferencial de pressão. Comprimento da
tubulação em teste, 2,05 metros. A=0,008659m².
O coeficiente de
atrito “f” tende a ter pequena variação, aumentando de valor
com a diminuição da velocidade, conforme tabela II assim também
como mostra o diagrama
de Moody ou a plotagem dos experimentos de Nikuradse.
Para fins práticos, em regime de escoamento turbulento
desenvolvido, que é a normalidade dos escoamentos, podemos
considerar que o coeficiente “f” de atrito tende para uma
constante quando a velocidade ou melhor o número de Reynolds estiver
acima da zona de transição. É importante observar, fig. I,
diagrama de Moody, que a velocidade V, onde começa a transição,
esta abaixo do Re = 5000 para uma tubulação de diâmetro D.
Todavia, para a mesma velocidade V com um novo diâmetro, agora
maior, o novo número de Reynolds será bem maior, por exemplo
50.000. Sabe-se que o número de Reynolds vem de uma relação de
forças, força de inercia sobre força de viscosidade, da qual se
chega ou se deduz que:
Re = VDρ/μ ou VD/ν,
ρ=densidade
μ=viscosidade absoluta
ν=viscosidade cinemática
Por outro lado, o coeficiente de atrito “f”, para a
mesma velocidade V, e a mesma rugosidade, “f” diminuí
acentuadamente com o aumento do diâmetro do tubo.
Esse novo fato, é fácil de ser percebido ou
comprovado, pois tudo acontece como se diluísse a rugosidade no
diâmetro do tubo, significando dividir o valor medido da rugosidade
“e” pelo diâmetro “D” do tubo. Como a rugosidade tem por
dimensional o metro, e o diâmetro também o metro, o número
resultante é absoluto, ou relativo cujo valor diminuí com o aumento
do diâmetro. ε=e/D rugosidade relativa. Da mesma forma que a
rugosidade relativa “ε” é um número sem unidade, portanto,
absoluto, assim também é o coeficiente de atrito “f” que varia
segundo a qualidade do tubo, sua rugosidade ou ainda segundo seu
tempo de uso escoando água. Assim sendo, por exemplo,1000 metros de
tubo de aço, relativamente novo, com 100 milímetro de diâmetro
interno tendo um coeficiente de atrito igual a 0,026, transportando
água a uma velocidade de +/-1,5 m/s, teria uma perda de carga de :
Hf = 0,026 . L.V²/2g.D = 0,026 . 1000 . (1,5)²/19,6
. 0,1 = 30,6 (metros de perda).
Essa mesma velocidade num tubo de 500 milímetros de
diâmetro daria 5,97 metros de perda. Hf =
0,026 . 1000 . (1,5)²/19,6 . 0,5 = 5,97 (metros de perda).
No diagrama de Moody, figura 1 pode se observar que o
coeficiente de atrito “f” varia acentuadamente com a variação
da relação, rugosidade “e” e diâmetro “D” representado
aqui pela letra “ε” denominada, rugosidade absoluta ou relativa
e, com a velocidade, representada aqui pelo número de Reynolds.
Quando o número de Reynolds se encontra fora da região laminar ou
da região de transição o comportamento do coeficiente de atrito
“f” é considerado estável ou único para toda zona rugosa,
independente do nº de Reynolds. Essa afirmação é muito errônea,
apesar de ser usada na prática, pois na rangeabilidade de 11,6:1, o
coeficiente “f” variou 30%, conforme tabela II em conteste.
Todavia, para tubos de mesmo material e mesma idade de
utilização, ou ainda, tubo novo, o Fator “C” é constante para
qualquer diâmetro.
DIAGRAMA DE MOODY
Obs. 2 – A
linha cheia na região rugosa assim como as linhas da região de
transição para a região do escoamento laminar, foram acrescentadas
pelo autor desse artigo.
Os cientistas Hazen e Willians, estudaram o
comportamento do atrito em tubulações, calculando ou determinando
de forma absoluta o fator discriminativo da encrustação nas
tubulações. Esse fator é denominado Fator “C”. Quando a
tubulação é nova, o fator “C”
é um número relativamente grande diminuindo seu valor
com os anos de uso no transporte de água. Sua rugosidade ou
incrustação aumenta e, o número correspondente ao fator “C”
diminuí. Levando essa ideia ao limite, pode-se dizer que, para uma
tubulação
sem atrito algum, seu fator “C”, tenderá para um
número muito grande, por exemplo infinito. Por outro lado seu
coeficiente de atrito “f” tenderia para zero. Essas duas
grandezas são contrárias. Nesse particular, cumpre observar que é
oportuno desenvolver e formatar uma nova equação que relacione,
conhecendo um dos dois números, fator “C” ou coeficiente “f”,
determinar o outro através da nova formula.
Muitas fórmulas práticas tem sido usada ou
desenvolvidas para o cálculo do atrito em tubulações com água. Os
cientistas Hazen & Willians foram os que mais avançaram nesse
estudo, até porque se beneficiaram dos estudos de vários outros
antecessores como por exemplo Darcy, Nikuradse, Reynolds, Weisback,
Flamant, Manning, Bazin , entre outros da época. Em 1939 lançaram,
divulgando seus estudos e a formula que leva hoje seus nomes. A
formula de Hazen&Willians é empírica, tendo todavia, boa
aceitação no meio acadêmico e na prática das Empresas de água
nos dias de hoje. Apesar de não resolver todos os problemas do
assunto, perda de carga, a formula é:
C = Q/0,2788 . D2,65
J0,54
,
onde:
C = Fator de encrustação ou rugosidade
Q = Vazão (m³/s)
D = Diâmetro interno da tubulação (m)
J = Perda de carga unitária (adimensional) = dP/L
(m/m)
dP=Perda de carga (mC.A.) valor medido
L = Comprimento da tubulação em teste (m)
O fator “C”, também denominado coeficiente de
encrustação, ou ainda coeficiente característico da tubulação, é
um número puro calculado de forma empírica.
Na tabela III, tem-se alguns valores característicos do
fator “C” segundo Hazen & Willians e o respectivo
coeficiente “f” segundo Darcy.
Para o tubo de PVC, o coeficiente “f” e o seu
respectivo fator “C” foi levantado e calculado na prática em
mesa de ensaio com água.
Observando a tabela I e, a respectiva tubulação em
uso, a seleção de um coeficiente aplicável ou a sua validação na
prática é difícil, a menos que se tenha uma vasta e forte
experiência no assunto. Todavia, a formula apresentada,
tanto a de Darcy como a de Hazen&Willians é muito útil quando
se tem equipamentos para o levantamento dos parâmetros requeridos.
Com a maleta eletrônica e o aplicativo do programa MDHidro
para essa finalidade, em questão de minutos se
determina o fator “C” de uma tubulação
pesquisada.
EFEITO DA IDADE E USO DE UM TUBO:
A perda de pressão por atrito é sensível as variações
do diâmetro, velocidade, rugosidades do tubo, (fator “C”) ou
ainda, coeficiente “f”. Para uma dada vazão e um dado fator “C”
a perda de pressão varia inversamente com o valor do diâmetro. Como
a incrustação diminuí o diâmetro interno do tubo, cientistas
afirmam que 2% na redução do diâmetro interno pela rugosidade pode
causar uma perda de 10% na pressão, assim como 5% de redução do
diâmetro aumenta a perda de pressão para 23%. Outros ainda apontam
que dependendo do material do tubo e da qualidade da água, a cada 4
anos de uso a rugosidade em um tubo de aço, aumenta cerca de 20% em
tese.
Tabela III- Valores
de “C” e envelhecimento do tubo segundo Hazem&Wllians
MATERIAL
|
Fator “C”
|
Coeficiente “f”
|
“f”
= f
(V,
D, e.)
|
Tubo de aço, novo
em trecho reto
|
140
|
-x-x-x-x-x-x-
|
|
Tubo de aço bem
liso
|
130
|
-x-x-x-x-x-x-
|
|
Tubo de aço
revestido
|
110
|
-x-x-x-x-x-x-
|
|
Tubo de aço fundido
|
100
|
-x-x-x-x-x-x-
|
|
Tubo de aço
rebitado
|
95
|
-x-x-x-x-x-x-
|
|
Tubo de aço velho
em má condição
|
60 a 80
|
-x-x-x-x-x-x-
|
|
Tubo de PVC novo
|
150
|
0,016422
|
|
Valores extraídos do livro Elementary Fluid Mechanics – by J.K.
VENNARD 4ª Edirion
Exceção para o tubo de PVC novo
Conhecendo somente o fator “C”, ou o coeficiente de
atrito “f”, teoricamente não se tem ate no momento, condições
de se determinar o outro fator ou o coeficiente correlacionado, senão
na prática medi-los em laboratório como foi exemplificado na tabela
II. Ainda,
considerando a tabela II, observa-se que o fator “C” não depende
da velocidade, senão somente, o coeficiente de atrito “f” que
pela mesma tabela, demonstra uma variação de +/- 30% conforme já
declarado anteriormente.
CONCLUSÃO
Cumpre observar que é
oportuno desenvolver e formatar uma nova equação que relacione o
fator “C” com o coeficiente “f”, ou seja, “f” = f
(V,
D, e.). Conhecendo um dos fatores determinar o outro através da nova
fórmula. Como se pode observar, o coeficiente “f”, de atrito, é
uma função variável que depende da velocidade “V”, do diâmetro
“D” e, da rugosidade do tubo “e”. Por sua vez, a rugosidade
“e” que é um número, possível de
ser medido, podendo se
tornar rugosidade relativa, pela sua divisão pelo diâmetro do tubo,
conforme apresentado ou inserido no gráfico de Moody, ε=e/D, figura
I. Dessa forma, “f” se tornaria uma função f
=(V, e/D). Reforço
aqui, na conclusão desse artigo, uma lacuna possível de ser
preenchida com uma nova oportunidade de se dissertar, deduzir e
apresentar uma nova equação a ser proposta, ou seja, fator “C”
uma função de “f”.
Geraldo
Lamon
Artigo
desenvolvido em agosto de 2013
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